Como as mães se tornam escritoras?

Esta é uma dúvida genuína e não um texto para dizer que é possível.

Juliana Pellicer Ruza
3 min readMar 20, 2021
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Escrever um texto deveria ser uma tarefa simples. Eu sou escritora, sempre lidei bem com as palavras e cresci no meio dos livros. Para mim, é simples expressar em palavras o que eu sinto ou o que eu penso. Era para ser uma atividade rápida e na qual eu não gastaria muito tempo, considerando que até tenho uma lista de temas sobre os quais gostaria de produzir nos próximos dias.

Eu havia conseguido estabelecer o hábito de escrita diária no mês passado, depois de completar um desafio com outros escritores. Já escrevi sobre isso e você pode conferir no meu perfil os textos produzidos (a maioria ainda sem revisão e edição). Entretanto, a volta ao trabalho pós-licença maternidade causou uma série de mudanças na nossa vida familiar, o que me fez colocar a escrita um pouco de lado.

Não foi por falta de tentativa. Tentei usar o celular, como alguns colegas sugeriram, mas não funciona para mim. Meu fluxo de ideias é diferente de quando estou diante do computador. O celular me incomoda por me corrigir no que não preciso e por deixar passar meus erros de digitação frequentes devido ao teclado pequeno e minha inabilidade de digitação rápida.

Eu tenho rede de apoio e pelo menos uma parte dela funciona. Posso trabalhar de casa e observar o desenvolvimento do meu filho enquanto minha mãe toma conta dele para mim. A hora que eu tinha para me dedicar à leitura e escrita foi tomada pela organização de tudo o que preciso para organizar o que vamos precisar durante o dia.

Não sei se as mães que me leem podem se identificar com isso. Um bebê exige tanto atenção, cuidado e carinho quanto tempo exclusivo dedicado a ele, como a alimentação, higiene e as sonecas. Eles ainda não fazem a maioria das coisas sozinhos e, quando precisam de algo, abrem a boca e gritam ou choram. Com isso, por mais que eu tente, não consigo estabelecer uma linha de raciocínio completa, nem para escrever uma frase legal, quanto mais um parágrafo inteiro de um texto.

A cada necessidade do bebê, preciso parar e atendê-lo. Ao voltar ao texto, a emoção contida na tentativa anterior já fugiu. Preciso reler o que escrevi para tentar mais uma vez. Mas, ao me aproximar do ponto onde estava, vem uma nova interrupção. O texto que eu escreveria em vinte minutos e editaria em outros vinte, tomará quase o dia todo para a versão inicial e sairá com qualidade inferior em relação a um escrito de uma vez só.

Nesse momento, o bebê acaba de acordar no carrinho ao meu lado. Tive dez minutos para escrever quase quinhentas palavras e agora vou ter que dar um jeito de editar isso antes de publicar.

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